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                    EMCONTRO COM PESSOAS IMPORTANTES EM  SÃO PAULO 
                    04-08-1990  
                    
                  O  almoço no Restaurante Hungaria esteve dos mais agradáveis.  Uma das tradicionais (e das poucas  remanescentes) mansões nas proximidades da Avenida Paulista, com decoração  típica da Hungria, em que sobressaiam os pratos adornados nas paredes.  
                    Comida excelente. Escolhi uma das variedades de “goulash”. Com bom vinho  nacional. 
                    O melhor estava à mesa: minha amiga Joyce Joppert Leal, a inteligente e  charmosa diretora de um programa de informação sobre desenho industrial, da  FIESP. O industrial sr. Tepperman, um velhinho afável e atencioso, com  linguagem de humanista e jeito de mecenas; Danilo Venturini (filho),  agora candidato a deputado distrital em Brasília e  
  Guy d´Almeida,  ex-governador  interino do Distrito Federal, que agora mora em Roma, ocupando uma diretoria do  TIPS, um programa de informação industrial do PNUD/Nações Unidas. 
                    
                  Um  papo descontraído, solto, à vontade. Um pouco de política, algo sobre a nova  política industrial do governo Collor (que abriu o mercado para os  produtos estrangeiros), arte, literatura, piadas, sem uma agenda fixa. 
                    Mais tarde encontrei-me, na FIESP, com Ricardo Semler, o jovem e  polêmico industrial que tornou-se a vedete da imprensa depois que anunciou a  corrupção de fiscais do governo. Dickie, como é conhecido dos mais  íntimos, foi dos primeiríssimos a aderir ao movimento da Diretas. Foi mais  longe: subiu aos palanques ao lado de políticos da oposição, ajudando a jogar  cal na ditadura militar.  
                    Uma figura nada convencional. Seu livro “Virando a própria mesa” já  passou da 2ª. edição e está, há muitas semanas, em primeiro lugar na lista de bestsellers  da revista Veja. 
                   
                  Ricardo  Semler, o  sr. Teppermann e José Mindlin estão entre os  industriais mais e esclarecidos progressistas do país, não somente do ponto de  vista ideológico — afinal, estão mais para liberais do que para esquerdistas —  mas por uma visão moderna e menos ortodoxa dos problemas nacionais. 
                    Não estive, desta feita com Mindlin, mas ele esteve presente o tempo  todo no tema da conversa... O homem da Metal Leve é um dos mais fervorosos  patrocinadores da cultura [a esposa dedica-se à restauração de obras raras], tendo  desenvolvido tecnologias  e experiência  no trato de papéis antigos, que transmite em sucessivos cursos, apesar de andar  pelos 74 anos de idade. Mindlin adquiriu  a coleção de livros raros de Rubens Borba de Moraes, o ex-diretor da  Biblioteca Nacional e ex-professor do Depto. de Biblioteconomia da Universidade  de Brasília.   
  Semler, Teppermann e Mindlin bem poderiam ser considerados  líderes da Sorbonne da FIESP.  
   
                      Agora chega-me às mãos um exemplar do livro “Virando a própria mesa”,  por intermédio de Joyce, com uma dedicatória desafiante do autor:  
  “Caro Miranda: Que você vire a mesa da informação tecnológica! Abraços. Simler,  julho ´90.”  
                      Iniciei, de imediato, a leitura. Texto fluído, rico de ideias, provocativo, algo  iconoclasta, sarcástico.  Escrito aos 28  anos, reflete um espírito incomum, de uma avis rara da 
  intelligentsia nacional. 
                   
                 
                
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